• A paródia não é um recurso de criação recente. Já existia na Grécia, em Roma, na Idade Média e, hoje, ela é ainda bastante utilizada. Ela ocorre de textos alheios (intertextualidade) e dos próprios textos de seu autor (intratextualidade), ou ainda como forma de autotextualidade, quando o poeta re-escreve a si mesmo.
• De acordo com o dicionário de literatura de Brewer (apud SANT’ANNA, 1988, p.12), “paródia significa uma ode que perverte o sentido uma outra ode” (para-ode). Vale lembrar que ode era um poema a ser cantado. A paródia era entendida como uma canção cantada ao lado de outra, um contracanto.
• A paródia traz vozes distintas e antagônicas. Ela inaugura o novo, o diferente, constrói a evolução de um discurso, de uma linguagem, segundo Affonso Romano de Sant’Anna.
• Paródia é descontinuidade e se coloca ao lado da contra-ideologia. É a intertextualidade das diferenças, é deslocamento, deformação, inversão __ a contradição, a divisão, o ruído, a quebra das normas. – daí ser recurso bastante utilizado hoje.
• É mais do que re-apresentação, é tomada de consciência.
• Paródia é o gesto inaugural da autoria e da individualidade. É o estranhamento máximo, o desvio maior. Nesse dialogismo marcado pela ambigüidade, a literatura parodística é portadora do sério e do cômico. É um discurso dialógico auto-reflexivo. De um lado, a seriedade e a solenidade; de outro, a jocosidade, o ridículo.
• O uso da paródia é uma maneira de subverter padrões.
• É sábio o dizer de Affonso R. de Sant’Anna (1998) ao afirmar que, para identificar os textos superpostos em diálogo, é necessário repertório, memória cultural e literária.
• Daí a importância de se fazer conhecer à criança as narrativas da tradição oral, os mitos, lendas, contos, pois elas são a verdadeira matéria literária em processo de recriação.
• Palo e Oliveira (1992) mencionam que, no diálogo conflitante dos contrastes, a voz do leitor é essencial para atualizar essa operação parodística na relação opositiva entre o modelo passado e a nova versão presente, nessa fusão do passado lendário ao presente do narrar e ler.
• O leitor, de fato, atualiza o diálogo no tempo e no espaço, pois lê com estranhamento, sem automatismo.
• Uma cultura se estabelece pelo equilíbrio entre a automatização e a desautomatização, segundo nos ensina Affonso Romano de Sant’Anna (1988). Pela automatização, há o reforço da linguagem conhecida e, pela desautomatização, há a contestação. Há necessidade de convivência entre esses dois movimentos que se instauram no interior do discurso literário.
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