domingo, 30 de maio de 2010

Relatório da Bárbara Carneiro (relatório I)

O presente relatório tem como objetivo debater a poesia infantil e juvenil a partir de alguns autores já apresentados em sala de aula. O debate girará em torno das vantagens e desvantagens desse material para crianças e jovens e o direcionamento para esse público ou para outro.
É sempre muito complicado pensar em uma literatura voltada especificamente para um público, já que eles nunca são homogêneos. Nesse caso, é especialmente difícil a análise porque quem a faz não está dentro do grupo especificado. O que procurarei fazer aqui é trazer alguns poemas dos autores indicados e apresentados nos seminários e tentar relacioná-los à experiência infantil e juvenil e a possível intenção do autor.
Não me aterei aos projetos gráficos dos livros, por estarem sujeitos a frequentes mudanças conforme as diferentes edições, mas é preciso destacar a importância visual e de significados dessas escolhas gráficas.

1. Cecília Meireles

Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no Rio de Janeiro em 07 de novembro de 1901 e morreu na mesma cidade em 09 de novembro de 1964. Exerceu a profissão de professora e jornalista, mas é principalmente lembrada pelo seu trabalho com poemas. Sua obra poética tem às vezes um enfoque na literatura infantil e juvenil, mas destacou-se também com O Romanceiro da Inconfidência.
Suas temáticas costumam abarcar questões metafísicas e minimalistas, desde a presença de flores até a brevidade da vida. Essa poesia leve e ao mesmo tempo complexa não precisa sair do campo dos adultos para circular muito bem no das crianças. As temáticas podem variar, mas a forma permanece lírica.
O livro usado para o seminário foi “Ou isto ou aquilo”. O poema homônimo ao livro traz uma série de possibilidades, mas que acabam sendo excludentes. Ou se pode fazer uma coisa, ou se pode fazer outra.

“É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!”

Sua obra infanto-juvenil apresenta uma lírica própria. A poeta problematiza grandes questões da existência de um modo simples, mas não simplista. Quando trata de um “isto” e de um “aquilo”, apresenta às crianças alguns pares que, além de criar uma idéia de escolha, indicam como não se pode viver de extremos. Não se pode estar nos ares o tempo todo, nem no chão; não se pode somente estudar, mas não se deve só brincar.
O público dessa obra é infantil. Favoravelmente a esse direcionamento, pode-se dizer do seu cuidado em não apresentar certezas absolutas, mas dúvidas e questionamentos. Apresentar o mundo para crianças deve ser um trabalho de indagação constante, porque adultos não devem se colocar em posição de donos do mundo.

2. Mario Quintana

Mario Quintana nasceu em Alegrete em 30 de julho de 1906 e morreu em Porto Alegre em 1994. Foi poeta, tradutor e jornalista. Não foi um poeta reconhecido na Academia, mas admirado por muitos de seus membros. Ao recusar o convite para candidatar-se pela quarta vez a fazer parte dela, o poeta criou uma de suas frases mais célebres: “Eles passarão/eu passarinho”.
Os livros analisados no seminário foram “Nariz de vidro” e “Sapato furado”, coletâneas de poemas dele. Centrar-me-ei no segundo.
“Sapato furado” traz pequenos versos e algumas prosas poéticas que tratam de assuntos diversos. Da morte e da vida, da infância, da velhice, da diferença entre amor e amizade, tudo com bastante ironia.
A ironia é uma desvantagem da obra para crianças muito pequenas que ainda não conseguem distinguir o que é irônico do que não é, caminhando em direção ao que é literal. No entanto, para crianças que já conseguem fazer essa distinção, o texto parece ser excelente. Traz reflexões em poucas palavras e diverte. Carrega um quê de pequenas subversões aos textos comumente indicados para crianças, justamente devido à ironia. E são nessas pequenas subversões que encontramos humor, o inesperado que gera a vontade de rir.
“Sapato furado” é uma antologia de poemas que não foram feitos especificamente para figurar em um mesmo livro, mas que se encaixam muito bem juntos. O poema “Que nome!”, por exemplo, figurava no Caderno H, em uma parte chamada “Palavras”. Outros textos foram tirados da obra Da preguiça como método de trabalho.

Que nome!
E não sei ao certo quem era ela, nem o que fez, mas tenho a certeza de que Dona Urraca foi uma das princesas mais infelizes do mundo...

3. Henriqueta Lisboa

Henriqueta Lisboa nasceu em Lambari em 15 de julho de 1901 e morreu em Belo Horizonte em 9 de outubro de 1985.
O livro recomendado foi “O menino poeta”. Analisarei o poema com esse nome. Henriqueta Lisboa faz uso de onomatopéias, que levam a leitura a um campo mais divertido. Ao mesmo tempo, o mote do texto é a procura pelo menino poeta. Esse menino, diz o poema, é conhecido do vizinho, de um peregrino. Mas o eu-lírico ainda não o encontrou, apenas sabe da história dele.
Uma aproximação do público ao menino poeta é feita a partir de uma alegoria. Menino poeta seria a criança em geral. É com simplicidade que ele e as crianças lidam com as coisas do mundo. É capaz de ensinar sobre o que está posto, o céu, o mar sem se pretender especialista, sendo apenas um vivente que capta a beleza do que o rodeia.

“O menino poeta
quero ver de perto
quero ver de perto
para me ensinar
as bonitas cousas
do céu e do mar.”

4. José Paulo Paes

José Paulo Paes nasceu na cidade de Taquaritinga em 1926 e morreu em São Paulo em 9 de outubro de 1998. Foi poeta, tradutor, crítico e ensaísta.
O livro analisado em seminário foi “O menino de Olho d’água”, enfocando-se o diálogo entre texto e ilustrações. O texto, por sinal, apresenta um diálogo dentro de si mesmo, já que é composto por prosa e poema. Os trechos em versos foram escritos por Paes, mas a prosa é de Rubens Matuck, que fizera também as ilustrações da obra. É interessante verificar a tonalidade das ilustrações e seus momentos de reviravolta em contato direto com a narrativa.
O texto tem uma função pedagógica clara ao mostrar a importância da água para a cidade do menino e a importância também da natureza ao redor, além de uma mensagem sobre vacinação.
Um fator muito relevante nessa obra é o passar do tempo. Quando era menino, o protagonista se junta a um velho e juntos se propõem a ajudar a cidade. Depois de muito tempo, quando o velho já havia morrido e o próprio menino já não era mais jovem, retorna à cidade e se recorda do tempo passado.
Em termos formais, a conversa do narrador com o leitor aproxima o segundo do livro. Trava uma relação entre os dois e a reflexão passa a ser construída por ambos.
Por esse mote pedagógico que o livro tem uma grande importância. Ele apresenta ao público infantil e juvenil a sua ordenação ao caos que é a realidade, mas envolve personagens sociais em uma dinâmica explicativa, suavizada pelas tenras cores de Rubens Matuck.

5. Bartolomeu Campos de Queirós

Nascido na cidade de Papagaio, Bartolomeu Campos de Queirós é o autor de “Para criar passarinho”, além de outros livros para o público infantil e juvenil.
O texto vem de modo formal em prosa, mas exala poesia em todas as suas construções verbais. Escrito como se fosse um manual de como criar passarinho, o livro nos revela o contrário. Traz para nós como é belo o pássaro solto, sua liberdade acima de tudo.
Olhando para as metáforas do texto, veremos a relação metalingüística dele. No fundo, mais do que criar passarinho, o autor parece falar de como criar poesia. De como o pensamento voa, já que não podemos como os pássaros fazer isso anatomicamente.

“Para criar passarinho há que se gostar da noite como um tempo para dormir aninhado entre estrelas. Isso se consegue não suspeitando dos sonhos e fascinar-se com a temporária presença da lua. Ter o escuro como manto capaz de abrigar o sono e mais uma paciente certeza de um sol depois de toda a madrugada”.



6. Conclusão

Apontar com certeza irrefutável de que um livro seja para criança é deixar de lado seu potencial para qualquer pessoa cuja sensibilidade seja tocada pelo texto. Muitas vezes, um livro para criança recebe essa denominação por sua simplicidade. No entanto, nós mesmos precisamos esporadicamente nos vestir com os olhos de crianças para buscar uma organização mais simples para o mundo que nos rodeia, que é uma experiência grande demais e complexa.

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